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Falar de minha experiência ao retornar o Brasil, após dois anos de missão no país de Filipinas, não está sendo fácil, porque infelizmente cheguei num momento de muita tenção devido a pandemia do COVID-19, que atingiu o mundo todo, e também ao caos político em que o Brasil está mergulhado.
Essa pandemia está crescendo, espalhando medo, insegurança, aumentando o número de pessoas marginalizadas com a falta de emprego, ceifando vidas, e o governo preferiu seguir a política do negacionismo, pois o presidente, Jair Messias Bolsonaro, não concorda com o isolamento social, renega as orientações da Organização Mundial da Saúde, o que tem causado uma grade desordem no país. Dois ministros da saúde já pediram demissão do cargo, por não concordar com o posicionamento do presidente. Governadores e prefeitos, decidiram não seguir as orientações do presidente, e aderiram ao isolamento social, seguindo as orientações da OMS, no afã de salvar vidas, e não superlotar o sistema de saúde. Além de enfrentar o vírus, o Brasil ainda enfrenta uma das mais graves crise política de toda sua história. Ao retornar, tomei conhecimento, não só do fim dos direitos trabalhistas, com a reforma da previdência, como também da destruição das políticas públicas de proteção ambiental e dos povos originários, e logo após iniciou o isolamento social, devido a pandemia do COVID 19.
Cheguei em um momento muito ruim, porque com a expansão da doença, a cidade que estou residindo, Jataí, localizada no Estado de Goiás, aderiu o isolamento social, e com o confinamento dentro das casas, somos impedidas de realizar qualquer atividade externa, mesmo assim, por meio dos meios de comunicação, é possível observar que esta situação tem dividido o Brasil em dois grupos de pessoas. Um grupo vem tomando consciência da finitude da vida, estão revendo conceitos de convivência e do bom viver, procurando crescer mais espiritualmente, valorizar mais a família e a vida de todos. Concordam com o isolamento social, como prevenção da proliferação do vírus, são a favor das medidas econômicas de auxilio emergencial a população de baixa renda, e contra a política armamentista proposta pelo governo Bolsonaro. Por outro lado, temos outro grupo que é contra o isolamento social, contra as medidas econômicas de auxilio as pessoas de baixa renda e a favor do armamento civil, proposto pelo Presidente Jair Messias Bolsonaro.
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Me tocou bastante a experiência de uma mãe, que ao tomar consciência de que sua filha não era mais uma criança, e que já estava na fase da adolescência, a fez entrar em crise, por perceber o quanto ela estava sendo omissa com a sua filha. Ela estava mais preocupada em ganhar dinheiro. Esta parada, a fez refletir que isto não é o mais importante, mais importante é a dignidade da família e das pessoas. Esse isolamento deve contribuir para que as famílias se aproximem e se reconheçam ao ponto de ver suas falhas e suas virtudes, daí então aproveitarem a chance de rever e mudar conceitos que estão em desajustes com os mandamentos do Deus Criador. Que possamos tirar algo de positivo de tudo isto. Nada acontece sem o consentimento de Deus, Ele está no comando. O homem é responsável por seus atos, temos que amar uns aos outros, priorizar a vida, cuidar do nosso planeta Terra, colocar em ordem os nossos valores, estamos nesta terra só de passagem. Temos certeza que tudo isto vai passar, aqui nada é eterno, outros povos já passaram por situações muito pior, e venceram. Que nós também possamos segurar na mão de Deus e caminhar com fé, esperança e amor, Ele é um Pai muito amoroso, jamais vai nos abandonar. Que saibamos compreender e seguir os ensinamentos do Santo Padre, em sua Carta Encíclica, Louvado Seja, Sobre o Cuidado da Casa Comum. “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?”
Esta interrogação é o centro da Carta Encíclica do Papa Francisco, sobre o cuidado da casa comum (Laudato si’), que prossegue: “Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentada”, e isso precisa nos levar a interrogar sobre o sentido da existência e sobre os valores que estão na base da vida social. “Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra?”. “Se não pulsa nas pessoas, esta pergunta de fundo, – diz o Pontífice – não creio que as nossas preocupações ecológicas possam surtir efeitos importantes”. Importa “incentivar uma cultura do cuidado que permeie toda a sociedade” (n.231), pois assim “podemos falar de uma fraternidade universal” (228).
Vamos resistir! A nossa missão é árdua, o Brasil precisa recuperar sua identidade de povo solidário, cuidar do meio ambiente e de sua gente. Voltar com as políticas humanitárias de combate à fome, é fundamental para a recuperação desse país tão sofrido com a pandemia e com a crise política. Vamos de mãos dadas, com a nossa fé e seguindo os ensinamentos do Papa Francisco, que como afirma Leonardo Boff, “sua mensagem é de esperança:” “caminhemos cantando, que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta, não nos tirem a alegria da esperança” (n.244).
“Antes de tudo, não se trata de uma encíclica verde que se restringe ao ambiente, predominante nos debates atuais. Propõe uma ecologia integral que abarca o ambiental, o social, o político, o cultural, o cotidiano e o espiritual”. (Leonardo Boff)
Ir. Maria Lucia Barbosa De Oliveira, Sfp
Publicado em: 25/06/2020