O Papa Francisco, falando recentemente aos comunicadores, disse: “O encontro entre a comunicação e a misericórdia é fecundo na medida em que gera uma proximidade que cuida, conforta, cura, acompanha, e faz festa”.
Com essa perspectiva, procuro viver a profecia do diálogo como cura, no hospital de Assis, que é pequeno, mas responde bem a algumas necessidades imediatas na região.
Ficar ali, ao lado do paciente, ouvi-lo, acompanhá-lo na ansiedade da espera por um relatório médico, ou dar suporte numa situação de fragilidade é uma obra de misericórdia, feita menos de palavras e mais de gestos concretos, para expressar proximidade e atenção. Por exemplo: nunca deixo um paciente sem ter ao menos acariciado sua mão ou o braço. Aproximo-me de quem está em final de vida, faço um sinal da cruz em sua testa e oro por ele silenciosamente, para que a sua passagem pela morte seja tranquila e sem dor.
O departamento de hemodiálise talvez seja o mais difícil. Há um clima sereno de paz entre enfermeiros e pacientes, mas o diálogo com o paciente é sempre um mistério. O que dizer a um paciente de diálise que 3 ou 4 vezes por semana precisa ir passar 4 horas no hospital e se você lhe perguntar: “Como vai?”, responderá sempre: “Bem!”. Muitos deles já aprenderam a conviver resignadamente com uma doença crônica, talvez tenham encontrado uma certa qualidade de vida, embora dependendo de uma máquina.
Um dia me aproximo de uma mulher jovem, que eu via por ali pela primeira vez, o rosto todo marcado, tensa e, apesar dos tubos ligados ao braço, revirava sua bolsa procurando o celular. Cumprimento-a e pergunto: “Como vai?” E ela me responde: “Como você quer que eu vá? Se estou aqui é porque não estou bem!” Instintivamente, eu teria ido embora para não perturbá-la, ou para não me envolver no seu mau humor. Mas fico, fixando o olhar em seus olhos e, pouco a pouco, ela vai me contando as vicissitudes de uma doença que foi se tornando extremamente grave e que, em seguida, resultou em uma insuficiência renal crônica. Procuro escutá-la profundamente e ela me fala do filho, ainda pequeno, que vê muito pouco devido às suas repetidas hospitalizações. Percebo que, além de nossas palavras, muitas vezes inadequadas, o que importa é a nossa proximidade, a escuta, a solidariedade. É isso que dá conforto.
Muitas vezes ouço os filhos que, com grande fidelidade e dedicação extrema permanecem ao lado de seus pais que estão morrendo, lutando internamente entre a dor da separação e a vontade de fazer todo o possível para mantê-los vivos. Marco, por exemplo, pára-me muitas vezes para pedir orações para que sua mãe continue vivendo. “Só ela me defendeu, quando tive sérios problemas na vida,” diz ele.
Encontro-o depois, em uma tarde, ao lado da cama da mãe, como sempre. E ele me diz: “Eu entendo, não posso fazê-la sofrer mais do que isso. Tenho que estar pronto para deixá-la partir. O Senhor vai me ajudar.” Oramos juntos e ele encontra pelo menos um pouco da sua “cura”: a paz.
Há também experiências de diálogo que não dão certo. Como por exemplo uma senhora idosa que me manda embora com maus modos, recusando-se a se apresentar e a falar comigo. Nesses casos, o único diálogo possível é ficar em silêncio, ser uma presença discreta, e respeitar os ritmos e a disposição da pessoa ...
Mas há também a senhora Adriana que aguarda ansiosamente a minha chegada para receber a Eucaristia. Há o Renato, que me segura por muito tempo para falar de santos e santuários ... e de tantas outras coisas e situações ... Há tantos em quem reconhecer o Senhor para amá-lo nos pobres, nos doentes, e nos desafortunados, assim como fez Madre Francisca.
Ir. Carla Casadei
Publicado em: 07/07/2016